MORTE E VIDA NO BAIRRO: PARADOXOS DO CEMITÉRIO DA VÁRZEA EM SEU TERRITÓRIO
Resumo
O presente trabalho tem por base analisar o Cemitério da Várzea na condição de um território geossimbolicamente demarcado por seus usuários em diversos usos, rituais e objetos lúgubres (túmulos, ossuários, covas, caixões, velas, oferendas, artes tumulares, etc.). Além desta geografia sepulcral, propõe-se discutir a relação dos moradores da Várzea com o cemitério do
bairro no que concerne à construção de residências geminadas ao muro do campo santo em toda sua extensão, onde apenas uma residência volta sua fachada para o cemitério. A negação ao território dos mortos revela paradoxos na escala do bairro, com os moradores ao mesmo tempo revelando relações amiúdes com o local dos mortos, mas também rejeições, estranhezas
e medos, seja por questões religiosas ou “sobrenaturais”, seja por motivos eminentemente médico-higienistas. Todavia, torna-se evidente que o “último cemitério do Recife” também se revela a derradeira morada para os moradores da Várzea, que constroem suas vidas com seus vizinhos, parentes e compadres, findando seus dias no próprio cemitério do bairro, lócus de
variadas contradições simbólico-materiais.